1978

O ano é 1978.

Hoje todo mundo tira foto quando está grávida. Publica logo em tudo quanto é lugar, coisa impensável naqueles tempos, quando Leila Diniz, grávidíssima e de biquíni, quase fecha a praia de Copacabana, atraindo o repúdio da tradicional família brasileira e provocando frisson nas forças armadas, que temiam a queda da ditadura, atordoada pela espetacular visão da barriga da diva.  Depois, tais fotos foram muito aos poucos se popularizando mas, na data dessa que você está vendo, ainda não era uso exibir barriga grávida, nem na praia, nem em fotos. Barriga não grávida podia, e se exibiam virilhas e adjacências até os limites da(do) você-sabe-o-quê, mas barriga grávida ainda assustava as pessoas.

Neste blog, se você clicar aqui, vai ver outras fotos minhas da gravidez de Ana Morena, que nasceu em 4 de janeiro de 1979; são fotos vestida e algumas nem tanto, mas artísticas e posadas, feita pela maravilhosa fotógrafa Gleide Selma, a quem (ainda) considero quase minha filha e que morava conosco na época, no Recife, onde eu cursava o Mestrado na UFPE.

Mas esta foto de que trata o post é especial. Caseira e sem glamour, foi feita no quintal da casa de Mamãe em Campina, no Alto Branco, e vale pelas diversas e variadas referências circunstanciais e familiares.

O que eu acho mais engraçado é que na hora da foto começaram: “Não está aparecendo a barriga!”, “Fique de lado”, “Ainda não está aparecendo, fique mais de lado”. Eu estava com sete meses e não entendia como tal barriga não estivesse aparecendo. Para resolver, levantei o vestido e acrescentei escândalo e falta de pudor ao registro. Além de grávida, com a calcinha totalmente à mostra – se é que se pode chamar essa pré-histórica peça de calcinha.

Ao meu lado, Adriana Arnaud, irmã de Arly, que era casada na época com Braulio Tavares, meu irmão. Adriana hoje é cantora e mora na França. Era uma criança muito linda.

Nos dedos eu trago um cigarro aceso. Eu fumava, e fumava bastante. Também bebia quantidades industriais de álcool. Naqueles tempos heroicos, acho que o cigarro e a bebida tinham outra composição, pois a criança nasceu saudável e hoje é a artista talentosa e produtora imbatível que todos vocês conhecem.

Vejam no cenário uma espécie de quadrado de cimento, do qual brotam diversas plantas. Esse quadrado era um “cevador de caranguejo” que Mamãe mandou fazer. Trazia os bichos da feira e soltava aí dentro, onde eram cevados até ficarem gordos de nem poderem se mover. Daí iam direto pra panela e o famoso pirão de caranguejo no coco que Mamãe fazia levantava até defunto e era excelente parede para as degustações alcoólicas. Depois, ela enjoou dos caranguejos, encheu o quadrado de terra e plantou coisas diversas, inclusive essa planta maior, que não sei pé-de-que-era mas que era a moradia de Comadre Florzinha, com quem Mamãe, sentada no batente da porta da cozinha, tinha intermináveis conversações.

E assim eram as coisas nesse tempo.

 

1968

Nesta foto, Papai – Nilo Tavares – e minha irmã mais nova – Inês Tavares – em Campina Grande. O ano é 1968. Pedi à própria Inês que fizesse o relato da ocasião.

O relato de Inês:

“Eu e meu pai Nilo Tavares. O ano era 1968, campanha para prefeito de Campina Grande, comício de Ronaldo Cunha Lima, que polarizava a disputa com “Seu” Cabral.

Meu pai Nilo Tavares, que era candidato a vereador, sempre me levava nos comícios. Ele escrevia uns discursos lindos que eu lia bem direitinho no palanque. No final sempre tinha a frase “e para vereador, vote em Nilo Tavares”.

Na época eu tinha 9 anos, então fui virando uma atração nos comícios.

Certo dia, eu fui com uma tia assistir um desses comícios de Ronaldo. Alguém me reconheceu no meio do povo como a menina que faz os discursos, e perguntaram se eu ia falar naquele dia.

Eu fiquei tão apavorada que me chamassem para falar, pois evidentemente só sabia ler os discursos que papai escrevia, que pedi a minha tia para ir embora.

Pois é, Ronaldo foi eleito, só governou 2 meses, foi cassado pelo AI-5 e tudo foi ficando mais tenebroso na história desse país.”

 

 

 

1962

 

O ano era 1962, estávamos numa das famosas “festas do GRESSE”, que era um clube social que havia em Campina Grande na época. A sigla queria dizer: Grêmio Recreativo dos Subtenentes e Sargentos do Exército, mas era frequentando largamente pela sociedade local. Eram bailes que começavam às dez da noite, geralmente nos sábados, e iam até às quatro da manhã. O que acontecia nessas noites? Uma orquestra ocupava o palco e tocava música dançante. Podia ou não haver crooner, e vez por outra havia um show de um cantor ou artista convidado, que vinha “de fora”. A orquestra parava geralmente meia noite e meia para o show, e depois retomava para as danças.

Tudo muito singelo, quando a gente se debruça sobre o passado, e olha com os olhos de hoje; mas quem viveu aquilo, como eu vivi, achou o máximo enquanto estava vivendo! Era preciso saber dançar direitinho, e muitos namoros começavam nessas festas.

Eu tinha 15 anos, usando os tradicionais vestidos “de alcinhas” que as adolescentes usavam naquela época. Ao meu lado Cleuza (minha mãe), o casal Lisete e Amaury Capiba, Nilo Tavares (meu pai) e minha tia Anunciada, irmã mais nova de Mamãe, que era solteira.

Bebia-se rum Montila, cerveja e refrigerante.

A orquestra tocava coisas como Besame Mucho (no famoso arranjo de Ray Conniff), mambos de Perez Prado, sambas, boleros…

 

1949

De pé: Tia Irene, com Ivo no braço, Tia Lu, e Mamãe (Cleuza), comigo no braço.

Abaixo: Eva e Ivan (filhos de tia Irene), Tia Caindinha, Mauro e Ivanildo (filhos de tia Amelina, já falecida na época.)

Foto feita no Recife, em 1949.

1978

Dezembro de 1978, no Recife.

Grávida de oito meses e meio de Ana Morena, que nasceu em 4 de janeiro do ano seguinte.

No apartamento da rua Argemira Rego Barros, na Várzea.

1959 – 2020 – “Os Quatro”

Ontem, 24/12/2020, na véspera de Natal, fizemos algo que nunca mais tínhamos feito:  nos reunimos em família.

Nos anos anteriores, quando não havia a praga, era complicado. Moramos todos longe uns dos outros. Mas agora, nesses tempos malucos, foi só abrir um canal no zoom e lá estávamos todos juntos, falando alto, todos ao mesmo tempo, debochando uns dos outros e rindo, rindo muito.

Somos quatro irmãos. Eu sou a mais velha. Depois vem Bráulio, em seguida Pedro, e finalmente Inês, 11 anos mais nova do que eu. Chamamos a nós mesmos carinhosamente de “Os Quatro”. Sempre fazemos fotos os quatro juntos quando nos encontramos.

A primeira foto dessas data de 1959, ano em que Inês nasceu. Numa manhã de domingo, com nossas melhores roupas, fomos todos para o quintal para que a claridade do sol ajudasse na nitidez da foto. O resultado é que todos saímos fazendo caretas e franzindo o rosto. Inês era bebê, eu com ela no braço e os dois meninos à frente.

Neste post, veremos Os Quatro, em vários momentos da vida.

1959

 

 

 

 

2010


 

1962

Em 1962, eu comemorava meu aniversário de 15 anos.

O bolo, em forma de ferradura, era para dar sorte.

E tive mesmo muita sorte. Uma vida boa.

Hoje, neste 14 de dezembro de 2020, completo meus 73 anos com a sensação que é um misto de dever cumprido com ainda uns 50% de coisas que faltam fazer.

E essa cara de felicidade, junto com meus livros.

1965

Rolava nas rádios, e na TV preto e branco que apenas começava, o fenômeno da Jovem Guarda.

Roberto Carlos gravava “O Calhambeque”. Todas as meninas usavam: cinto Calhambeque, sapato Calhambeque, pulseira Calhambeque… Uma febre. Eu também usava. E já costurava toda a minha roupa, como o conjuntinho da foto, em mescla azul.

A foto foi feita na casa do Alto Branco, em Campina.

1990

Pronta para ir ao Baile das Kengas e o ano é entre 1988 e 1990.

Vivia na praia e realmente deve ter sido no inicio de 1990, pois este verão 89/90 foi a campanha de “Lula- lá brilha uma estrela” e eu ia à praia todo dia.

O traje: meia arrastão, salto alto, blusa decotadíssima com algo transparente por cima.

E o glitter debaixo dos olhos?

Um  a-r-r-a-s-o!  

Ao lado de Zezé Mota – que neste ano foi a “Madrinha” das Kengas – e outros foliões. À direita, de vestido rosa, Arrudinha (ou Danuza de Salles).

1953

Os “turcos” no Carnaval.

Papai, sempre criativo, inventava fantasias para nós e Mamãe executava. Eu tinha 5 anos e Braulio 2 anos e meio nessa foto.

Ele de calça azul de cetim e eu de saia de tiras de várias cores. Blusas de seda branca, coletes pretos bordados com lantejoulas, assim como as faixas da cintura. Na cabeça, Braulio usava um chapéu de cartolina coberto de areia prateada e eu um turbante roxo (que Tia chamava de “ciclâmen”, referindo-se à cor). Tia exigiu que usássemos tênis para poder “pular carnaval” sem machucar os pés…

A foto foi feita nas ruas de Campina e é impressionante a qualidade. O original está ali no meu álbum, e ninguém diz que se passaram quase 70 anos.